Com pouco mais de duas décadas de atuação na área contábil, eu vi e observo até os dias de hoje dois tipos distintos de departamento de contabilidade:
O primeiro, em empresas de grande porte, onde tal departamento conta com uma área ampla e uma posição de destaque dentro da companhia. Há um grupo enorme de pessoas trabalhando ali - aliás, como não se vê em nenhum outro país do mundo; e o que a matriz de empresas multinacionais mais questiona: Overhead. Esse enorme departamento cuida da contabilidade elementar (em seu termo em inglês conhecida por "bookkeeping"), mas também dos relatórios gerenciais e estatutários, das auditorias, as análises econômico-financeiras e seus indicadores, os orçamentos e suas variedades de custos reais e gerenciais, as conciliações, os controles patrimoniais de ativos, a manutenção dos ERPs, a atualização tributária, a apuração dos impostos, a escrituração fiscal e suas obrigações acessórias, etc.
Com tanta informação sendo trabalhada, é de se esperar que haja grupos de pessoas influentes na organização ansiosas por conhecer e balisar as suas decisões a partir dos indicadores mais recentes daí extraídos.
Em segundo plano, atuando para empresas de pequeno e médio porte... o escritório de contabilidade terceirizado com recursos limitados e responsabilidades ilimitadas. Esta equipe contábil, diferente da primeira, realiza suas atividades com base em uma tabela de honorários que reflete em atender o menor grau de exigências de seus clientes possível: aquele que não resulte em problemas de ordem fiscal para a empresa e seus sócios.
Diante desse cenário, a primeira providência desses escritórios é estabelecer um fluxo de documentação que lhes permitam executar a escrituração fiscal e a apuração dos impostos da sociedade empresária e em alguns casos, a escrituração contábil básica e seus relatórios essenciais são elaborados para formalidades elementares e a apresentação da DIPJ em junho de cada ano.
Esperar que alguém se valha desses trabalhos para a tomada de decisão está definitivamente fora de questão, até que algo realmente grave e urgente tome a cena. Infelizmente essa tem sido a tônica da cultura de médios contadores e médios empresários brasileiros. É claro que eu quis enfatizar dois extremos de nossa realidade, mas o pior é observar que a grande maioria está no segundo extremo.
A boa, ou má notícia, é que mudanças começam a ser percebidas nesse cenário: A NF-e, o SPED (Fiscal, Contábil, Contribuições, Social, e o que mais o nosso criativo fisco vier a inventar), já chegou ao universo das pequenas e médias empresas. Com isso, os controles fiscais, tributários e inclusive contábeis requeridos sobre essas empresas estão elevando os seus custos (como já aconteceu com as grandes empresas). É inevitável o aumento dos custos decorrentes da implantação de sistema, criação de processos para consistências de dados e atender os prazos do fisco e assim evitar riscos fiscais e multas daí decorrentes.
A expectativa é que com o aumento desses custos aumente também a consciência dos gestores que começam a perceber que o fisco terá mais informações sobre suas empresas do que eles próprios. Se no passado o governo colocou a Contabilidade das empresas para trabalhar para si, agora está na hora de corrigir essa distorção e colocar a Contabilidade para trabalhar para a empresa novamente.
Quero dizer com isso que está na hora dos pequenos e médios empresários retomarem para si os préstimos da contabilidade. É melhor que eles se dediquem a conhecer os seus números implícitos em sua contabilidade, seja ela boa ou ruim. É de se esperar que ele descubra uma fonte relevante de informações úteis para a tomada de decisões, e ainda para evitar riscos à sua continuidade.
Convém lembrar, ainda, que ampla literatura leva em consideração as informações não-financeiras para a tomada de decisão dirigida para a estratégia. As informações não-financeiras advindas das diversas áreas da empresa, em conjunto com informações financeiras, resultam numa poderosa ferramenta de gestão conhecida como Balanced Score Card (BSC), que pode fazer a diferença quando bem implantada e utilizada pelos gestores que buscam a perpetuação e a expansão dos seus negócios.
Caros empreendedores pensem a respeito.
Flavio O. Santiago
Consultor Financeiro e Controller
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